2007-05-05

O meu erro pelo "canudo"

Estava aqui a lembrar-me a propósito de canudo e não canudo, recuo aos anos 74/75, digamos 70 até 1980, antes era outro mundo, mais sombrio. Tinha vindo da tropa á uns anos, sim naquele tempo era obrigado a cumprir o serviço militar e ainda por cima tive de ir (68/70) para a ex-colónias, província ultramarina “Angola”onde estive dois longos anos, (será uma história para depois) .
Quando vim de Angola, namorei, procurei novo emprego, casei, e resolvi passado uns poucos anos continuar os meus estudos que tinham sido interrompidos por tal obrigação, (A pátria chama-nos, temos o dever de defender todo o território português. Angola é nossa) musica de outros tempos, que felizmente os mais novos não conhecem.
Andava a estudar quando se deu o 25 de Abril de 1974, nesse ano, e subsequentes as escolas (técnica, universidade) era uma rebaldaria.
Zanguei-me, por ingenuidade, honestidade ou estupidez, disse eu, quero estar na escola para aprender, e desisti. Não acabei o curso, nem me diplomei, não tirei o bacharelato, nada, como eu houve por certo muitos mais, desistiram, (outros continuaram), não quiseram aquela confusão, provavelmente estão arrependidos. Bons e maus alunos, uns ficaram pelo caminho outros continuaram. Aqui deixo os meus cumprimentos aos ex-colegas.
A escola (quando me refiro a escola tanto técnicas como superiores, agora com mais pompa e circunstancia Universidade)
A aprendizagem era pouca e deficiente reinava a desorganização, o laxismo, nos alunos e professores as motivações se transformavam, a esperança de dias melhores , jorrava os movimentos políticos, proliferaram as constestações (o posicionamento partidário começava a assentuar-se e quem não foi na onda da revolução ficou mais lixado), parei para reflectir e errei.
O canudo era tudo, pois ao longo da minha vida profissional, deparei com tanta incompetência abrilhantada por Eng. Técnicos ou Engenheiros.
Nessa ocasião passava-se administrativamente, faziam-se RGA. (Reunião Geral de Alunos), exigiam-se, era o termo, passagens administrativas, passagens só pelo facto de se estar matriculado, naqueles tempos chumbava-se o ano por faltas. Ouvi muitas vezes alunos a definirem que se não iam ás aulas era porque não estavam de acordo com o ensino, eram por definição maus alunos, muitos cabulas, oportunistas de ocasião como acontece sempre nestes momentos, enfim tempos de revolução em que muitos e muitos apanharam o comboio em andamento. Hoje são doutores e engenheiros (estejam ou não escritos na Ordem) em diversas empresas do estado, autarquias gabinetes governamentais, ou mesmo particulares onde a sua mediocridade impera, (o importante é que tem canudo) tantos políticos.
Uma pessoa com o curso tirado nos Institutos Industriais eram Agentes Técnicos, (grau de bacharelato) depois e automaticamente passaram a ser designados por Engenheiros Técnicos, que se escrevia para diferenciação Eng. Técnico e aqui se transformou a confusão. Os Eng. Técnicos, quando se encontravam perante um Engenheiro (verdadeiro engenheiro com Curso Superior de Engenharia, normalmente formado no Instituto Superior Técnico) de modo geral não se intitulavam Engenheiros, mas sim eram os senhores fulano de tal, quando estavam com outros pessoas não formadas, gostavam de ser tratados por Engenheiros e esqueciam-se dedo Técnico, nas empresas e fora delas, o que criou de facto confusão e o tratamento de Sr. Engenheiro, passou a ser comum.
Um exemplo concreto, tive um chefe de departamento, que era na ocasião Eng. Técnico, aproveitando as facilidades existentes (estamos nos anos 80) enquanto os técnicos (não Engenheiros) trabalhavam, ele baldava-se e foi tirar o curso de Engenharia, deixou de ser o Sr. …, e exigir ser tratado pelo Sr. Engenheiro, a competência essa foi a mesma, ou pior, pois sentia-se mais superior. Mentalidade á portuguesa.
Como já referi numa crónica anterior, hoje mais que nunca o canudo é tudo.
A competência e profissionalismo, não tem significado nem valorização (quer em que área técnica quer em outros trabalhos não específicos) o importante é o diploma.
Uma besta carregada de livros, ou melhor diplomas, é um doutor. Verdadeiro artista português.
Um técnico sem canudo é um burro, pois só sabe trabalhar e pensar.
Juventude, não repitam o mesmo erro que eu, puderam ser bestas, burros, mas com canudo.

1 comentário:

  1. Fico tocado... que tenha deixado tudo pela pátria. No entanto gostava que nos contasse mais sobre os anos passados com os pretos. Principalmente com as pretas. Como fazia para escapar às doenças? Usava camisinha? Ou não chegava a praticar o coito? Elas também gemiam em crioulo?

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