2007-10-29

Mil profissões

O cavador ergue a inchada,
O operário a ferramenta na mão
A enfermeira do doente vai cuidar
O padeiro amassa o pão.
Todos têm um fim em comum
O trabalho, a servidão
O carteiro a carta vai entregar
O professor a aula vai dar
O médico examina o paciente
O músico ensaia na banda
O jardineiro as flores regar.
A canseira do dia a dia
Mil profissões sem parar
A escriturária a papelada organiza
A telefonista as ligações
O tipógrafo vai imprimir
A locutora a noticia anunciar.
Trabalho trabalho, trabalho
O carpinteiro a madeira vai moldar
A costureira o vestido aperta
Contabilista as contas acertar
O relojoeiro o relógio conserta
O cauteleiro a lotaria apregoa
A esperança no ar ecoa
O trabalho a quanto obrigas
Para o pouco dinheiro amealhar
O coveiro a corpo a enterrar
O bombeiro o fogo apaga
O maquinista conduz o comboio
O motorista o camião
O marinheiro vai embarcar
O pedreiro a casa constrói
O pescador a rede lança
O policia na sua andança
O carcereiro fecha a cela
A semana para uns se inicia
Para outros está a acabar
Profissões que turnos tem
Modo de vida a acertar
Gira o mundo sem parar
Numa grande euforia
O trabalho a riqueza não dá
Só o sustento de cada dia
Felizes o que podem ter
Trabalho, saúde e família
Enriquecer nem pensar, talvez um dia.

2007-10-28

Ausência forçada

Foto do autor : C Valente - Bandeiras

Amigos e amigas, a todos quero agradecer as missivas que me foram endereçadas, mas por razões estranhas á minha vontade não vos pode responder, nem efectuar visitas.
A ausência forçada deve-se a estas coisas de máquinas, pois tive um problema com o meu computador que tão depressa tinha Internet como o deixava de ter, até que pifou e tive de o mandar a um amigo para o repara, ou configurar, e quando se trata de “amigos” por vezes ficamos para trás e o facto é que tive todo este tempo sem PC,
Não me esqueci de vós, mas nada podia fazer, pois nestas coisas de computadores sou o que se costuma dizer um zero, ou quase
Ouve quem pensasse que seria por motivos de doença, felizmente não. Por aqui tudo bem, o que espero e desejo que aconteça com todos vós.

Saudações amigas e um bom inicio

2007-10-20

A calçada

Foto do autor : C Valente - Passeio da Calçada
A pedra da minha calçada
Um conjunto de paralelepípedos
Multiformes irregulares facetados
Que o calceteiro aqui plantou

Todos olham, ninguém vê

A tristeza que presenciou
A alegria que viu passar
A lágrima que caiu
Sorriso em muito olhar

Mil passos te percorrem
Calçada acima calçada abaixo
Pés descalços, bem calçados
Mal vestidos, engravatados

Murmúrios tu ouvistes
Alegrias, tristezas, desabafos
Os segredos que guardas
A ninguém serão revelados

Serves para passeios idílicos
Ou para lutas e discussão
Todos passam e reclamam
Independentemente da posição

Ao longo do teu percurso
Onde impões o teu pendor
Quero muitas vezes te pisar
Sentir-me vivo e com fulgor

A vida tem seus embaraços
Altos e baixos se nos deparam
Muitas calçadas se enfrentam
Cada dia é uma conquista

Trevo da amizade



2007-10-19

Nova mentalidade dos jovens face ao emprego?

Hoje por razões pessoais tive de ir ao hospital, consulta marcada para as 8,45horas, como é habitual , fui atendimento pelas 10,45h. Hora aproximada que chegou o médico, mas o importante desta crónica é o desenrolar de uma conversa de elevador entre duas jovens de cerca de vinte e poucos anos.
Independentemente das conversas, que deixaram de ser privadas passando para o conhecimento publico, dado não se coibirem de conversar de modo a terceiros ouvirem, pelo que não é confidencia, aliás pouco me interessava pela conversação das duas jovens, mas ouço dizer uma a para a outra entre outras conversas que nada tinha de especial.
Então não sabes já estou efectiva, o que a outra logo com um grande sorriso de deu os parabéns (e nesta época pensava eu que também era uma boa noticias) mas respondeu logo a amiga, parabéns porquê eu não penso cá ficar muito mais tempo e então deu uma frase que é o significado de muita coisa, Estou á procura de outra coisa (o que seria positivos, a outra admirada ainda retorquiu então á quanto tempo estás cá, estou a três anos, mas não quero ficar aqui para biblou. Estou a tentar ir para outro lado por isso não é importante ter passado a efectiva, o que a outra retorquiu, mas não me tinhas dito nada, pois como não achei importante e há tantas amigas, que não o sabem, estou á espera de ir para outro lado e ao fim de três anos mudo para outro, não quero ficar muito tempo em lado nenhum. Estar mais que 3 ou 4 anos no mesmo sitio é uma chatice.
Com o desenrolar da conversa que tinha começado no Hall á espera do elevador continuou. Sabes eu trabalho em arquivo e movimento, (escritórios) e não estou para me cansar muito, ao que a outra respondeu, mas não estás bem, estou, mas tu é que sabes, e se não te deres bem, não é importante de qualquer maneira ao fim duns tempos espero mudar assim arranje outra coisa, que é o que estou á espera aqui.
Será esta a nova mentalidade dos jovens, não se querem afirmar no seu posto de trabalho, não querem criar raízes, não pretendem trabalho, e começamos a acreditar deixou de o ser para se transformar em mero emprego (o que não é o mesmo)
Conclusão será que os jovens preferem trabalhos instáveis, será que estão a querer dar razão ao patronato,
E qual a opinião dos sindicatos que reivindicam exactamente o contrário, será que se mantêm a mentalidade de á muitos anos, com dirigentes que não conhecem as novas realidades. Não sei no meu tempo e não sou assim tão velho quanto isso, e pelo que escuto, será esta situação uma excepção e não regra?
Pergunto será que esta jovem é o espelho de muitos outros, não sei pois também tenho o caso de um filho de um amigo, que prefere trabalhos temporários do que um trabalho fixo, de longa duração.
Não sou nem nunca foi empresário, ás vezes patrão de mim mesmo, mas será que esta juventudes quer trabalhar e não só receber um salário, ser bom naquilo que faz, assim como é que podem desempenhar uma boa função no seu exercício da sua actividade,
Que me chocou esta atitude, é um facto, e vem á memoria aquela provérbio “ Dá Deus dentes a quem não tem nozes”, depois ouvimos que tantos jovens desejam um emprego, seguro, efectivo e não contratos a prazo,
Verdade se diga a outra colega, que parecia ter outro modo de agir dizia que estava á quatro anos ali, queria continuar, e sorria.
Se não fosse real seria anedota, e lá seguiram viagem no elevador depois de virem de tomar o seu café da manhã pelas 10,00h quando eu também vinha da cafetaria, depois de estar um bom tempo á espera pelo médico .

Bom Fim de Semana a todos

2007-10-18

Reflexos da vida

Foto do autor : C Valente - Sombra. Praia de Santa Cruz

Espelho envelhecido
Imagem desfocada
Sombra disforme
No chão estampada
Reflexos da vida
Pedaços de sonhos
Fragmentos de ideias
Alegrias efémeras
Dores sentidas
Sorte madrasta
Parcelas de ideais
Destino incerto
Momentos de esperança
Uma mão cheia de nada

2007-10-14

Dinheiro, vil metal

Dinheiro, vil metal
Por ti, tudo vale.
Famílias desavindas,
Partilhas ensanguentadas,
Lares arruinados,
Amizades perdidas,
Amores desfeitos.

Por ti, vil metal
O impoluto é corrompido,
Sociedades anuladas,
Alegrias e tristezas,
Ódios e cobiças
Ambição desmedida
O honesto desespera

Dinheiro, vil metal
Compra-se poder
Guerras e influências
Droga e destruição
Alimentas poderosos
Ambiciosos e desonestos
Só o pobre é que não

Por ti vil metal
Moeda ou papel
Valor cambial
Assaltos, crime e dor
Escorre suor e lágrimas
Trabalhos e canseiras
E morre-se de fome

Dinheiro vil metal
Símbolo universal
Tudo governa e comanda
Não há ética nem moral
Tão pouco justiça social
Honra, rectidão, palavra,
Não é o teu vocabulário

Tu, vil metal
Minorias que muito tem
Muitos nada possuem
Uns poucos o adoram
Tantos outros o desprezam
Mas todos o desejam
Junta riqueza e miséria
Ninguém passa sem ele


2007-10-09

Um pouco do dia a dia

Uma pequena multidão se aglomera junto á banca dos jornais em grandes parangonas estão anunciados os acontecimentos marcantes, os desaires dos futebolistas, o crime por resolver, as pessoas comentam entre si, mesmo sem se conhecerem fazem de juiz e advogado, condenam e aprovam, de treinador e jogador, de comentarista, policia e ladrão. Depois lá vão para as suas vidinhas cinzentas rotineiras e monótonas, com um brilhozinho, já encontram tema de conversa, já tem tema para o comentário, com a vizinha ou como vizinho no vão da escada, ou na mesa do café.
Foram ao mercado, vêem carregados não com o volume das compras mas com o peso do corpo e da idade, também do dinheiro pouco dinheiro com que gerir, de alimentar a casa, a família, um par de velhotes se lamenta entre si, em que queriam o peixe mas estava caro, levem um pouco de fruta, que hoje estava barata.
Os protestos são muitos, mas aqui não há políticos que os ouçam,
Uma outra velhota de idade avançada se apoia numa bengala a amparar aquele corpo esquelético comido pelo tempo e amarguras da vida, se abeira de outra denotando-se a miséria que tenta ocultar, se cumprimentam e um rol de lamentações, a vida está má a quem o diz pois a farmácia leva o dinheiro todo agora aqui levo umas coisitas um bocadinho de peixe, meio quilito de carapau, e lá continuam no desenrolar das tristezas e amarguras.
Junto ao mercado existe um pequeno café onde um por vezes se junta pessoas para tomar alguma coisa e descansar um pouco as pernas, e porque não coscuvilhice, da má-língua.
Diz uma daquelas senhoras que uns minutos antes encontrava-se a ver os jornais, está tudo doido ( e isto não é preciso a sumidade de Santana Lopes o dizer, há muito que diz o povo), veja lá a amiga aquela mãe que matou a criança a pontapé, pois pois e foi presa bem feito, e a estrangeira parecia tão boa pessoa, a mim nunca me enganou, aquela que a criança desapareceu no Algarve, já não acredito em nada sabe , querem é dinheiro, o anjinho é que desapareceu, e eles só pensam em passear, é como digo está tudo doido , mas como é estrangeira andam com ela nas palmas das mãos, se fosse portuguesa, se calhar já lhe tinham dado era um enxerto de porrada e era bem feita, veja lá a mãe da Joana a criança também não apareceu e a mãe está presa. Isto é tudo por causa do poder do dinheiro e da política acrescenta um senhor idoso que entre um golo de café veio entrar no enredo, e lá continuam na conversa da desgraça, mais á frente
Um homem corpulento que a entrada dos anos não esconde, antigo metalúrgico, agora reformado, com a sua barriga opulenta lá vai dizendo é sempre os mesmos, que pagam a crise, para eles não há crise não á despedimentos, mas veja lá, o meu sobrinho estava numa boa empresa e foi corrido, o seu interlocutor um homem aparentando cinquenta anos, com cara de doente, ajuda na conversa a três é tudo interesses amigo, não são eles que sofrem na pele, para os que estão no poder o Zé povinho é números
logo na mesa ao lado um jovens discutem futebol acrescentando um de barba por fazer á uma semana, os jogadores não querem é corre, ganham muito, acrescentando outro de cabeço liso, escuro que não senhor, a culpa é do treinador que devia ter feito a substituição a tempo e não fez. Um outro mais ferrenho encorpado atira logo, vocês não percebem nada, a culpa foi do árbitro que roubou um penalti, e lá continua discussão ao sabor de umas minis,
Resumidamente e em meia hora, se vê a filosofia do pobre de como vive dos problemas do dia a dia, entre protestos e lamentos,
Os políticos e em especial os governantes, em vez de andarem no corta fitas em inaugurações com dinheiro dos contribuintes como obra sua (até parece de saiu do bolso deles) deviam de escutar o povo, mas isso era pedir muito.

2007-10-08

Novo democrata

Antes fascista, cobarde, charlatão,
Hoje democrata de primeira-mão.
Apanhou o comboio em andamento
Visualizou para onde ia a composição

Não pretendeu subir em apeadeiros
Estação principal era essencial
O seu estatuto assim o reclama
Estar no lugar certo é primordial

Eloquente com discurso bem-falante
Socialista, social-democrata, cristão
Progressista, reformista, conservador,
Não importa, nem faz selecção
Da esquerda, ao centro, ou á direita
O seu partido é estar no poder
Democrata que por ai que prolífera

2007-10-07

Todos iguais

Reis, presidentes, juízes, ministros
Representantes de uma qualquer nação
Todos seguem o mesmo cortejo
Cada um com sua configuração

A musica entoa no ar,
Algazarra, conflitos animação,
No rádio e TV as noticias
Uns comentam outros não

Ricos, aristocratas nobres e plebeus
Até o artista, actor de falsas vidas
A última apresentação vai a efectuar
Com aplausos da multidão presente

Som animado a pairar
Cantar, alegria de jovens
Dança Risos gargalhadas
A vida, oferta a aproveitar

A marcha segue o seu percurso
O ditador com sua pose de pavão
O pobre com seu fato domingueiro
Alivio, lágrimas sorrisos, consternação

Escassos momentos foram a meditar
O que foi feito da vida pouco importa
A morte, verdadeira democrata a justiçar
Fim, homem bom ou mau vai a enterrar

2007-10-02

A luta continua

Monte branco
Campo de batalha
Chão quadrilongo
Plano, liso e fino.
Uma resma de papel
Uma linha no horizonte
Não á toques de clarim
Rufar de tambores
Rebombar de canhões
Chapa de qualquer metal
Uma pausa,
Um café
Taciturno o guerreiro
Com a vontade desfeita
Aguarda a ocasião
Momento de inércia
Persiste
Tudo está trôpego
Corpo, mente, ideias.
Raciocínio, discernimento
O vazio domina
O silêncio perdura
No auge,
Um rasgo percorre o corpo
Faz-se á peleja,
Discussões, acesas
Sílabas, sons, rugidos
Palavra contra palavra
Um deslizar
Percorre o manto
O gelo se desfaz
A folha apazigua
Tem vida e cor
Já olhos cansados
A vista turva
Mais um interregno
Não há vencido
Nem vencedor
Outra contenda e outra virá.