2012-05-21

Medo

Existe como um impulso para o medo
Sentimento lógico ou modo irracional
O facto nos martiriza e estigma á toa
Ameaça real ou fantasia coze o terror

Ante o desconhecido pode levar ao medo
Ao conhecido a incompreensão acontece
Um acontecimento patético ou comovente
Porque existem medos de tantos géneros

Encontram-se reacções inesperadas
Existe vontade de fugir da cobardia
Debandar ao acaso, até ao rumo final
Achar em si, a forte dose de coragem

Um certo desejo de enfrentar o medo
Leva a descobrir o próprio ser humano
Janela entreaberta de muitas sensações
O acto de se conhecer o deixe espantado

A manifestação de medo não é cobardia
A apreensão, ante o perigo leva ao medo
Só o tresloucado não tem discernimento
Ao perigo que se apresenta subtilmente

A vontade de não conhecer algemas
Impede muitas vezes de se expressar
Une os dentes, esconde a raiva contida
Espalhado o medo não existe liberdade

Trabalhador comum com família tem medo
Vê-se registado e ameaçado pelo patronato
Quantos déspotas disfarçados de democratas
Fazem imperar a incerteza e o despedimento

Eventual toque favorece atitude corajosa
Felicidade e sofrimento uma fonte oculta
Lágrimas despontam no interlúdio da vida
Todos os caminhos vão dar a um amanhã

2012-05-18

Mãos limpas, mãos sujas

Mão que fala

que nega

que acusa

que oferece

Mão que trata

que acaricia

que aplaude

que cumprimenta

Mão que oculta

que rouba

que bate

que mata

Mão que reza

Que suplica

Que alimenta

Que representa

Mão que desenha

que molda

que pinta

que talha

Mãos sujas na riqueza

Mãos limpas, na pobreza

Mãos lavadas do rico

Mãos enegrecidas do pobre

Mãos no peito, falsidade

Mãos fechadas, avareza

Mãos nas costas, moleza

Mãos nos bolsos, preguiça

Mão oleada do mecânico

Mão calejada do cavador

Mão tratada do escriturário

Mão escamada do pescador

Mãos com mãos na amizade

Que os povos dêem as mãos

Que os homens se encontrem


Mãos a transportar a oliveira da paz não as armas

2012-05-13

Lutando contra a corrente

Velas desfraldadas, fraco timoneiro ao leme

Com temporal a navegar por destino errado

Homens no convés, ás amarras e no porão

Esforço de braços, pé descalço faz-se á luta


Num esforço tentam perscrutar o tempo vindouro

O vil metal corrompe e transforma a besta homem

Vendaval desmesurado e cruel neste caos actual

Adversidade e a impotência têm de ser vencidas


Despojados da casa, gastos e desesperados

Impotente é o trabalhador, sem o seu salário

Causadores senhores importantes da praça

Na comunicação tagarelam de barriga cheia


Borracha quer apagar as vidas que são gente

Povo que se esforça e empenha e faz a nação

Descartáveis são os números e não as pessoas

O trabalhador não é um deve/haver contabilístico


Enfrentar o desconhecido, destino deste povo sofrido

Não necessita de bandalhos a indicar-lhe o caminho

Tesouros guardados, por tubarões foram espoliados

Com o peso da gula, também vão ao fundo e morrem


Viver na riqueza e ostentação, desprezando o trabalho

No mar pinga gotas de sangue, gargalhada soa no ar

Clarão fantasmagórico de uma recordação do passado

A indignação pede justiça no mais elevado dos tribunais


2012-05-10

Rosto em delírio


Filho de um homem que foi deus
Folha e ramo da arvore da vida
Uma janela aberta de par em par
O céu brilhante num dia quente

Imbuído de magia prevendo o futuro
Imagens que nos levam para longe
Apanhando o comboio sem tempo
Passado e presente e se misturam

Vitima da sua própria imaginação
Caminhando em rua de terra batida
Numa iluminação cheia de sombras
Oculta as feridas na pele e dos anos

Pensamentos maus num rosto em delírio
Emergem gotas de suor como fio de cobre
Olhar inexpressivo, fixando vagamente o vazio
Apagar a memoria e a mágoa que nos engole

Uma luz brilhante e dolorida nos olhos
Mergulhada no vértice de cor rodopiante
Defendendo-se de uma presença invisível
Desafia a derrota em projectos renovados

Num deslumbramento de felicidade
Relembra os bons momentos vividos
Existência de raiz fortalecida não morre
Lágrimas de alegria banham os campos


2012-05-05

Naufrago no paraíso

Navio naufragado em águas profundas
Palácio assombrado por fantasmas
O silêncio domina as profundidades
Floresce uma fonte de vida e morte

Qual admirável mundo de contrastes
Cor, luz, silencio num mesmo espaço
No túmulo repousa o herói já esquecido
Capitão de tantas viagens empreendidas

Mar longínquo, praias de areias douradas
Brisa quente soprando entre as palmeiras
Flores de incontáveis desenhos e aromas.
Transformam tal lugar em paraíso terrestre

Local iluminado por inúmeras constelações
Entre o poder da montanha e a beleza do céu,
A lágrima na água se desvanece sem rasto
Grito de dor silenciosa mansamente contida

Onde acaba a breve jornada da vida
A incógnita do fim como do principio
Historias de vivencia em ilha perdida
Palavras borradas em folha flutuam

Sublimes versos em suspiros suaves
Poema feito com sabores exóticos
Imprecisão na escrita se torna difícil
Beleza da morte ou o que vem depois

2012-05-01

Comemorar o 1º de Maio

O dia a dia uma constante
Trabalho, casa uma aflição
Ganha-se um mísero salário
Família, filhos para sustentar

Quanta canseira, quanta labuta
Desbravar a terra, lançar a rede
Quanta escrita, e os telefonemas
Tratar das casa, cuidar dos doentes

Após anos e sem motivo é despedido
E o desemprego sempre a aumentar
Triste a sina de quem é trabalhador
Sem ordenado dificuldades a dobrar

Tanta falsidade vai neste mundo
Trabalho, salário, saúde, habitação
Comemorar o que andam a destruir
Festejar, desempregado sem motivação

Empresários e administrações sem moral
Sanguessugas do suor e esforço alheios
Com governantes e poderosos em conluio
A situação humana por eles é desprezada

Respeitamos o trabalhador e suas lutas
Comemoremos as conquistas alcançadas
Não baixar os braços o combate continua
Resistir contra arbitrariedades é necessário

Viva o 1ª de Maio - Viva o dia do Trabalhador