2007-10-09

Um pouco do dia a dia

Uma pequena multidão se aglomera junto á banca dos jornais em grandes parangonas estão anunciados os acontecimentos marcantes, os desaires dos futebolistas, o crime por resolver, as pessoas comentam entre si, mesmo sem se conhecerem fazem de juiz e advogado, condenam e aprovam, de treinador e jogador, de comentarista, policia e ladrão. Depois lá vão para as suas vidinhas cinzentas rotineiras e monótonas, com um brilhozinho, já encontram tema de conversa, já tem tema para o comentário, com a vizinha ou como vizinho no vão da escada, ou na mesa do café.
Foram ao mercado, vêem carregados não com o volume das compras mas com o peso do corpo e da idade, também do dinheiro pouco dinheiro com que gerir, de alimentar a casa, a família, um par de velhotes se lamenta entre si, em que queriam o peixe mas estava caro, levem um pouco de fruta, que hoje estava barata.
Os protestos são muitos, mas aqui não há políticos que os ouçam,
Uma outra velhota de idade avançada se apoia numa bengala a amparar aquele corpo esquelético comido pelo tempo e amarguras da vida, se abeira de outra denotando-se a miséria que tenta ocultar, se cumprimentam e um rol de lamentações, a vida está má a quem o diz pois a farmácia leva o dinheiro todo agora aqui levo umas coisitas um bocadinho de peixe, meio quilito de carapau, e lá continuam no desenrolar das tristezas e amarguras.
Junto ao mercado existe um pequeno café onde um por vezes se junta pessoas para tomar alguma coisa e descansar um pouco as pernas, e porque não coscuvilhice, da má-língua.
Diz uma daquelas senhoras que uns minutos antes encontrava-se a ver os jornais, está tudo doido ( e isto não é preciso a sumidade de Santana Lopes o dizer, há muito que diz o povo), veja lá a amiga aquela mãe que matou a criança a pontapé, pois pois e foi presa bem feito, e a estrangeira parecia tão boa pessoa, a mim nunca me enganou, aquela que a criança desapareceu no Algarve, já não acredito em nada sabe , querem é dinheiro, o anjinho é que desapareceu, e eles só pensam em passear, é como digo está tudo doido , mas como é estrangeira andam com ela nas palmas das mãos, se fosse portuguesa, se calhar já lhe tinham dado era um enxerto de porrada e era bem feita, veja lá a mãe da Joana a criança também não apareceu e a mãe está presa. Isto é tudo por causa do poder do dinheiro e da política acrescenta um senhor idoso que entre um golo de café veio entrar no enredo, e lá continuam na conversa da desgraça, mais á frente
Um homem corpulento que a entrada dos anos não esconde, antigo metalúrgico, agora reformado, com a sua barriga opulenta lá vai dizendo é sempre os mesmos, que pagam a crise, para eles não há crise não á despedimentos, mas veja lá, o meu sobrinho estava numa boa empresa e foi corrido, o seu interlocutor um homem aparentando cinquenta anos, com cara de doente, ajuda na conversa a três é tudo interesses amigo, não são eles que sofrem na pele, para os que estão no poder o Zé povinho é números
logo na mesa ao lado um jovens discutem futebol acrescentando um de barba por fazer á uma semana, os jogadores não querem é corre, ganham muito, acrescentando outro de cabeço liso, escuro que não senhor, a culpa é do treinador que devia ter feito a substituição a tempo e não fez. Um outro mais ferrenho encorpado atira logo, vocês não percebem nada, a culpa foi do árbitro que roubou um penalti, e lá continua discussão ao sabor de umas minis,
Resumidamente e em meia hora, se vê a filosofia do pobre de como vive dos problemas do dia a dia, entre protestos e lamentos,
Os políticos e em especial os governantes, em vez de andarem no corta fitas em inaugurações com dinheiro dos contribuintes como obra sua (até parece de saiu do bolso deles) deviam de escutar o povo, mas isso era pedir muito.

42 comentários:

  1. Um crónica do quotidiano muito fiel, melhor dizendo um retrato da nossa sociedade muito actual.
    Se o maior cego é oq ue não quer ver. O maior surdo também é aquele que não quer ouvir ... percebes do que falo!

    Um beijinho

    Noite feleiz

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  2. O mundo deles é de festas, de inaugurações, almoçaradas, noitadas, férias a convite de amigos, e por vezes lá têm a chatice de assinar uns papéis, ou um discurso do chefe ou ter que ir ao parlamento com umas cábulas já preparadas para atirar às fuças dos adversários. Que grande trabalheira!
    O que eles se recusam mesmo a fazer, é ouvir a "populaça", porque desses, só se aproximam em campanhas eleitorais, se estiverem camaras por perto.
    Que sabem eles da vida dos governados? Nada! Só privam com pessoas de "alto gabarito" (bolso cheio) e o círculo dos amigos de profissão e de interesses.
    Abraço do Zé

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  3. e, como dizes, escutar o povo é pedir muito.e assim vamos vivendo cada dia mais descontentes.
    belo post.
    beijinhos

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  4. "Por muito que queiramos,não podemos rejeitar as sombras e as tristezas.A grande beleza de um ser humano total, vem do contraste entre ver a luz e a sombra".
    Contudo,alguns",os que tudo podem,mas não querem",esquecem as sombras porque incomodam....são medíocres!Para quê perder tempo, se nada ou pouco entendem?
    Um abraço

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  5. Um belo texto que reflecte uma realidade doentia da sociedade actual.

    Deixo um pequeno texto com um abraço:

    Aos iluminados

    Que fazer nos dias de hoje perante a crise de valores que afecta a sociedade? Hoje mais do que nunca se nos depara esta pergunta. A sociedade é um circo onde o mediatismo e o falar "bem" sugere um boa prática, mas não é verdade. Encontramos hoje em quem está no cumprimento de tarefas "públicas", um palavreado quase circense. Fala-se muito, mas pouco se faz devidamente. Quem pugna pela verdade, quem luta por direitos, quem denuncia civicamente actos dúbios é apelidado de contra e logo é taxado com algum partido, ou opção de vida menos clara, ou saudável. Tudo tem que ser unânime em bênção de uma política selvagem que nos traz constantemente interrogações sobre a conduta dos "servidores públicos".

    Quem diz de sua justiça, imbuído de boas intenções, tentando contribuir para a melhoria do grupo/sociedade é visto como um ser amaldiçoado e atiçam-lhes os "cães", pagos com o nosso contributo fiscal. Tudo isto para vos dizer que não claudicarei, que não pararei de ao abrigo desta Constituição da República, "por enquanto", em elevar a minha voz incómoda para os incapazes e facilitistas, mas de esperança para quem vê frustrados os seus Direitos Constitucionais e Humanos.

    Portugal vai mal. Caminha sem sentido. Só uns iluminados discordam. Temos que lhes trazer a luz caros amigos ou nem por isso, contem com a minha voz na Defesa dos Direitos das pessoas Diferentes. Quem algum dia pensou que me podia “comprar” ou calar, já há muito que sentiu desânimo e até se calhar terá problemas depressivos. Felizmente não somos todos iguais e uma coisa que aprendi ao longo da vida, é que devemos ser felizes com aquilo que temos e andar de cabeça bem levantada.

    Assim continuarei enquanto Deus me der forças, neste país de iluminados agnósticos ou maçónicos que gostaria de respeitar, se eles respeitassem as opções dos outros.

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  6. ò amigo Valente, não estará, por acaso, a pedir muito? quer o quê? que os senhores dos corredores bafientos do poder venham oscular o povo? falar com o povo desdentado, coitado, que deixa passar perdigotos pelos sítios onde outrora existiam dentes? e que se põe aos guinchos mal assoma uma câmara da têvê? cruzes, credo... isso só em eleições e ai que custa tanto!

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  7. Agora que li tudo tenho que parar para respirar....
    e eles insultam, em vez de ouvir o que, quem os sustenta, tem para dizer....

    Abraço amigo

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  8. Às vezes solta-se do céu uma estrela
    Às vezes um anjo perde-se da companhia dos seus
    Às vezes varre o mundo uma estranha luz
    Às vezes uma criatura anda perdida de Deus


    Boa semana

    Abraço

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  9. C. Valente, olá amigo!
    Li com muita atenção o seu texto.
    Como sempre o meu amigo, diz o que tem a dizer sendo bem preciso, não deixando dúvidas em ningúem.
    Aprecio imenso está sua lealdade para com todos nós e consigo próprio.
    Grata pela sua visita que é sempre bem vinda e pelas suas palavras simpáticas.
    Beijinhos!
    Fernandinha

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  10. O povo v� com clareza, o que os politicos fingem n�o enxergar.

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  11. Infelizmente tudo o que relataste é pura realidade.
    Mas quem se importa com isso?
    Ninguém...Por isso eatamos neste país de impasses.

    bjgrande

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  12. C.Valente, passei para deixar um beijinho de boa noite.
    F.C.

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  13. uma historia do dia a dia
    seja qual for o pais tem sempre seus problemas...
    Talvez o meu ''canada'' se viva melhor so que nada e mar de rosas e principalmente para os idosos
    Adorei te ler
    beijinhos mil
    whispers

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  14. E assim vamos andando...

    um abraço

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  15. a única coisa que os políticos gostam de ouvir do povo são os aplausos durante a inaugurações, no resto do tempo o povo não percebe nada e é estúpido.

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  16. a rtp hoje de manhã, 10/10, dedicou uma peça de 6 minutos por causa da inauguraçao do eixo norte sul...

    onde raio está a independência editorial??

    bom post c valente!

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  17. Que bela descrição do dia a dia. É assim de norte a sul, do interior ao litoral.

    marinheiroaguadoce a navegar

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  18. Sem d�vida:

    "...
    Os pol�ticos e em especial os governantes, em vez de andarem no corta fitas em inaugura�es com dinheiro dos contribuintes como obra sua (at� parece de saiu do bolso deles) deviam de escutar o povo, mas isso era pedir muito.
    "

    o teu texto � um belo retrato do nosso dia a dia ...

    gostei.

    bjs

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  19. E assim vai o mundo...

    beijitos

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  20. Olá amigo, passei para deixar-lhe um beijinho de boa noite.
    Fernandinha

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  21. O TEXTO É UM DIAGNÓSTICO

    E AGORA MEU AMIGO

    QUE PROPÕE?

    Pelo sonho é que vamos

    abraço

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  22. Sente-se o pulsar do Portugal real, nas tuas palavras. Gostei muito. **

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  23. Amigo C.Valente, cada vez são miores as clivagens e cada vez é maior a indiferença. Quando circulamos entre pessoas que vivem intensamente a quotidianeidade porque minguam os recursos e sobram os problemas, podemos fazer um, diagnóstico, ainda que superficial, do drama da maioria das famílias portuguesas.

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  24. Gostei da tua crónica. Excelente.
    No fundo, ninguém quer escutar ninguém.
    Só nos interessamos pela desgraça alheia... e os telejornais fazem-nos a vontade, às carradas...
    Abraço.

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  25. É visível como a política em Portugal e no Brasil são muito parecidas - repleta de corruptos -.
    Um abraço.

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  26. Bem...
    Parabéns pelo excelente post
    E sim, era pedir muito que escutassem o povo, se eles nem a eles se escutam...
    Quem sabe um dia ...
    Deixo um beijo
    (*)

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  27. Excelente texto!
    E mais não digo...

    Bjs

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  28. eu já disse k ia pa politica e k tudo ficava resolvido ,mas ninguem me dá ouvidos :) tou a brincar ,mas as vezes é o k apetece fazer ao ver o k esses politicos dazem e ao ouvi-los falar. tive sem net alguns dias mas ja voltei. bjo
    carla granja

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  29. É sem dúvida um belo retrato de uma manhã daqueles que fazem pela vida, vida essa que pouco faz por eles...mas é um retrato vivo e colorido do nosso quotidiano.
    Bjs.

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  30. Surpresa para a nossa Elsa Nyny!

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  31. Ainda não chegou o mp4 ao plano tecnológico, aí talvez se possa gravar para... depois escutar...! Bjs.

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  32. excelente descrição!

    é engraçado que ao ler consegui visualizar, promenor por promenor!

    bom fim de semana

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  33. ai, minha Nossa Senhora d'Agrela, num blog destes e escrevo "promenor"!

    TPC: escrever 1000 xs "pormenor"!!!

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  34. A realidade incomoda-os. Fogem dela a sete pés.
    Cumps

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  35. Estimado Amigo Valente,

    Excepcional trabalho este que nos apresenta pela amostragem nua e crua da realidade sociológica dos nossos dias.
    O pulsar do povo, daqueles que apenas querem pão e melhores condições de vida deviam constituir, não todos os dias mas todos os minutos dos dias, a maior preocupação e atenção dos nossos políticos. Mas, sabemos que assim não é....
    Mesmo durante as campanhas eleitorais, muitos fingem ouvir o que não querem ouvir e ver o que não querem ver. Ou não será assim?!

    Um abraço amigo e,
    Votos de um Bom Fim de Semana.

    Maria Faia

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  36. Estas são verdadeiras cenas do quotidiano... hoje. Que fazer?
    Bom fim de semana.
    Um abraço

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  37. Estas são verdadeiras cenas do quotidiano... hoje. Que fazer?
    Bom fim de semana.
    Um abraço

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  38. É soberba a maneira como descreveste a sociedade media-baixa no nosso país!
    Os meus parabéns pela tua objectividade e exactidão!
    abraço

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  39. Depois de ler esta crónica tao bem expressada, nao preciso ler nenhum jornal. Exactamente fiel ao mundo em que vivemos.
    Beijinhos

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  40. Os políticos de Portugal são bem parecidos com os do Brasil - Só pensam em si e o povo que se dane!.

    Um abraço.

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  41. Belissima crónica do quotidiano, de qualquer lugar urbano, deste Portugal à beira mar plantado.

    Um abraço
    António Delgado

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