2007-08-31

Pregões de Lisboa antiga ( Parte I )

Nos anos 50 e 60 e , ouvia-se por quase toda a Lisboa os pregões, muitos vinham ao sabor das estações no Outono / Inverno, outros nas épocas de Primavera /Verão. Era tempos de alegria para a pequenada, e consola para as donas de casa,
Ninguém se incomodava com a poluição sonora, como os produtos mal embalados, com questões de higiene suprema, (mas parece que os produtos eram mais frescos, tinham mais sabor, as frutas sabiam a fruta, o peixe a peixe,) não havia congelados, o frigorifico eram um luxo para muitos. E o acordar da manhã tinha mais cor e alegria, havia movimento cantado das bocas dos pregoeiros.
Lisboa de outras eras, sou nascido e criado em Lisboa, vivia na zona da Lapa, a escola primária que frequentei era a nº 11 na rua das Trinas na Madragoa, e sempre vivi até ao cumprir o serviço militar em Luanda- Angola, depois vim novamente para esta cidade que amo.
Como recordo dos sons desta bonita capital, agora é só carros e mais carros e buzinadelas.
Apresento os pregões, falta o tom e os sons, mas para quem se recorda é facil a entoação, os outrso ficam com a imaginação. Estes são os que me lembro, outros terá havido e nos tempos mais antigos outros mais, no tempo de hoje praticamente se perderam.(um ou outro existe mas não tem o sabor de outros tempos, é como a fruta)
Pregões de Lisboa que o tempo levou, Lisboa antiga de outras eras, que os tempos modernos trucidou.

· As varinas com a sua canasta á cabeça, e com os seus pregões matinais contagiantes
Oh viva da costa.
Olha a sardinha, é vivinha da costa.
Há carapau e sardinha linda.
Há Carapau fresquinho, olha o carapau para o gato.
Ó freguesa desça a baixo.
Ó freguesa leve um quarteirão, é fresquinha a minha sardinha.
Tenho Chicharro lindo, carapau, pescada fina.
· As mulheres com um grande panelão á cabeça, enrolado entre papéis de jornais e serapilheira vinha apregoar
Fava rica, que quer almoçar.
· Outras mulheres de cesta de verga á cabeça vinha ao meio da tarde a anunciar
Quer figos quem quer merendar,…. olha o figo madurinho.
Olha o figo da capa- rôta.
· E ainda outras com os cestos bem acondicionados, trapos e jornais anunciavam
Olha o marmelo cozido.
Pêra parda cozida, é da rocha.
· Lá vinha o homem pelo meio da manhã vender para as casas mais finas (naquele tempo era um luxo para alguns) carregado em cada mão com um cento de eras e morangos.
Olha o morango….é de Sintra.
Cabaz com morangos.
·
O homem da fruta com a sua carroça e burro, a apregoar
Olha a laranja é da baía.
E outras frutas ditas pobres eram indicadas consoante a época e a grande quantidade.
· A vendedeira de hortaliça que tinha um macho que puxava a carroça toda enfeitada e que por vezes aplicava o seu brejeirismo
Olha o feijão carrapato, há alface, há repolho.
Oh freguesa veja os meus tomates .

Oh madama, hoje não vai nada meu
Olha a boa couve lombarda, é para o bacalhau, e também tenho alhos .
· O sorveteiro com o seu triciclo transformado ora tocando a campainha ora apregoando
Olha o gelado, fruta oh chocolate, há baunilha .
Olha o rajá fresquinho.

Olha o cone sorvete
· O amolador com o seu carro todo em madeira, com uma grande roda e pedal que servia para mover o pedra e para ao sua “ maquina” rodar, com uma roda de pedra já gasta, o homem de um modo geral galego, com boina de lado e tocando a sua flauta de beiços de som caracteristico
Amola facas navalhas e tesouras.
Cá está o amolador, concerto guarda chuvas.
·
Lá vinha o funileiro com o seu ferro de soldar sempre acesso e caixa de madeira ás costas a apregoar
Tachos panelas e alguidares, olha o funileiro á porta.
· Pela manhã ou pela tarde passava o ferro velho, por vezes co uma cama de ferro ás costas
Está cá o ferro velho .
Quem tem trapos, ou garrafas pra vender.
· Pela manhã ou no final da tarde, o ardina na sua correria e pontaria, dobrava o jornal e mandava para as janelas mais altas dos seus fieis cliente, ou de um ou outro que o solicita-se e não falhava a pontaria
Olha o Século, olha o Diário de Noticias .
Olha a Capital, Republica ó Popular.
Diário de Lisboa, olha o Popular, trás o desastre.
· E o cauteleiro, já cansado com o seu boné de chapa identificadora reluzente
Olha a sorte grande, amanhã anda a roda.
Só sai a quem joga, olha a sorte grande.

· O petrolino, era um apressoa forte e sizuda que utilizava uma carroça, com o seu macho inponente ,muito carregada de diversa mercadoria toda bem acondicionada ao seu jeito, onde se encontrava quase todo mas, em especial:
Petroleo, azeite, lexivia, vassoras, pás, piassabas, palha de aço para a loiça, sabão azul e branco, utensilios de cozinha,e outros produtos,Tocava a sua corneta sempre que dizia.
Cá está o petrolino,

Outros pregões, outras situações serão apresentadas.

E agora anuncio eu BOM FIM DE SEMANA

15 comentários:

  1. Pregões prestes a desaparecer.


    bjgrande e bom fim de semana

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  2. mudam-se os tempos....

    cp's

    bom fim de semana!

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  3. Que saudade...viajei no tempo...belo texto...

    Doce beijo

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  4. Pelo que entendi, falas de uma feira livre...

    beijos

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  5. Ainda me lembro dos aguadeiros com as suas bilhas envoltas em heras, a vender púcaros de água pela rua. E a "Faneca da linha!" (que tanto tempo julguei ser faneca e galinha...). Grata pelas recordações. Abraços.

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  6. Lindos e típicos, estes pregões....
    Abraço

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  7. Excelente e BOM FIM DE SEMANA !!!

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  8. Lindo este teu relembrar "linguarejares" perdidos conjuntamente com muitos dos ofícios ou actividades a eles ligados. Agora na era do Hipermercado o pregão chega na caixa de correio camuflado de folheto....

    Beijinhos
    BF

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  9. Reviver tempos idos.
    Lembro-me de alguns.
    Tenho ainda na memória quando era miúda, ir ao domingo brincar para o Largo da Ajuda naqueles jardins junto ao Palácio e, adorar quando ouvia o toque de uma corneta seguido do pregão...Ó lingua da sogra!
    Eram óptimas, nunca mais comi.
    Beijinhos e bom fim de semana.

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  10. Excelente, muito bom, isso é que era dar cor a uma cidade.
    Felizmente não tinham a ASAE para verificar a qualidade dos produtos e os direitos de autor dos pregões.

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  11. De férias agora, espero ter mais tempo para ler e recuperar em parte, os textos que não tive oportunidade de comentar em devido tempo. Fui passando, mas sempre voando.
    Um abraço

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  12. Excelente ideia esta de publicar estes pregões. Alguns ainda tive oportunidade de ouvir quando era pequenito.

    Um abraço
    António

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  13. So falta o cantar de voz vibrante, forte e sotaque brejeiro. Seria lindo compilar imagens, dizeres e o cantico correspondente pois muita gente se lembrara duma Lisboa que ja nao e mas foi.

    Obrigado.

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