2012-08-01

Triste lembrança

Não andar no sentido dos carros, produz em mim um efeito de lembrança que se transformou numa espécie de fobia.
Estávamos no ano de 1969, a cumprir o serviço militar obrigatório, tendo sido destacado (não fui dos que fugiu, da guerra, não imigrei cumpri o meu dever cívico. apesar de estar contra o governo da altura, como agora, a diferença de hoje é para pior, mais revolta contra mais injustiças só diz liberdade não chega, é uma falácia) mas continuamos, fui destacado para a s ditas províncias ultramarinas para uns, colónias para outros, encontrando-me em Luanda - Angola.
Ao final da tarde de um certo dia quente, saindo do aquartelamento de onde tinha sido destacado em rendição individual "AEA - Agrupamento de Engenharia de Angola", encontrei-me á porta do quartel com um amigo, daqueles de ocasião, em que cada vez que nos cruzamos nos cumprimentamos e continuamos quase uns desconhecidos, e que hoje tenho pena que nem fixei seu nome. Percorremos numa conversa banal como tantas outras, ao longo da Av. dos Quartéis, a quem se dirigia pata o centro ou para o cinema Alvalade, antigamente (hoje não sei se existe), o lado esquerdo era preenchido por quartéis, com um passeio de cimento , do lado direito era descampado com uma amostra de passeio em terra batida e de pó.
Um dos aborrecimentos e pouco justificáveis situações que levava o militar a ir no lado direito, deve-se ao facto de por tudo e por nada se fazer continência militar, uma saudação que só deveria ser feita, ou exigida, quando em conversações directas e de superiores directos com os quais tem contactos ou se está sobre comando directo, e não por mero cruzamento de pessoas que nem se conhecem nem se cumprimentam, a não ser numa continência sem sentido,
A situação anterior forçava a um certos constrangimentos, pois implicava quase cada passo, se cruzassem militares saídos de outros quartéis de patentes superiores a obrigatoriedade da mil e uma continência. Para evitar tal situação, alguns militares, preferiam caminhar no pó e terra, e que implicava também irem no sentido do trânsito, ou seja de costa para o mesmo.
Das poucas vezes que ia para o meu quarto alugado na zona da Maianga a pé, ia do lado esquerdo, pois era mais importante a comodidade e os sapatos sem pó, tornando-se mais confortável o caminhar.
Assim encontrava sempre alguém conhecido, mesmo de outros quartéis, e desenvolviam-se conversas diversas, e foi num desses dias que serve de referencia a esta narrativa,
Tinha saído do quartel, com esse meu conhecido, e íamos na conversa e o que ficou na minha memoria, pois me dizia “ falta-me muito pouco tempo para acabar a comissão, estive sempre aqui em Luanda e em breve regresso a casa, e tu parece que também vais ter sorte, estás num serviço bom e provavelmente também não tens que ir para o mato”, uma conversa simples como tantas mas que veio marcar.
Surge a triste historia, é que passados uns dias tive conhecimento de uma desgraça. O meu conhecido teve um trágico acidente, ia a andar junto á berma do passeio do lado direito, provavelmente por ser mais confortável e não sujar os sapatos, mas o que seria mais um regresso de fim do dia ao seu quarto, surgiu o imprevisto e inimaginável. Um “camion” GMC militar, que ia recolher a um desses quartéis, vindo no mesmo sentido, e pelo que foi apurado, encostou-se demasiado junto á berma do passeio, e para grande desgraça um gancho de amarração da carroçaria que estava demasiado aberto (saliente) apanhou a cabeça de o conhecido (seria ofensa chamar amigo pois faltaria a verdade, mas o facto é que hoje o retrato como amigo, tal a situação me afectou.
Foi o mesmo levado para o Hospital Militar Central, onde poucos dias depois veio a falecer, factos que só vim a saber uns dias mais tarde. e nem me pode ir despedir.
Uma vida estupidamente ceifada, em plena juventude sem nexo, situação que não me sai da memoria cada vez relembro quando mesmo que por acaso e em escassos minutos circulo no sentido do transi to ou vejo algum familiar ou amigo, acabo por contar a historia deste triste fim
Moral de uma historia verdadeira, CIRCULE SEMPRE DE FRENTE PARA O TRANSITO, NUNCA NO MESMO SENTIDO E DE COSTAS PARA ESTE

1 comentário:

  1. É de seguir o seu conselho final, mas nem isso evita o desatre, infelizmente!

    Saudações

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